"Cresci como filha única, com uma mãe solteira", começa o artigo.
"Mesmo sendo feminista, toda a minha vida eu passei esperando por um homem para amar, que poderia me amar. Por décadas, achei que esse homem seria o meu pai. Quando eu tinha 25 anos, eu conheci esse homem, e ele era meu irmão."
O texto foi lido por ela em uma homenagem realizada no dia 16, na Igreja Memorial da Universidade Stanford, e publicado ontem pelo jornal The New York Times.
A VIDA APÓS A DOENÇA
A parte final do artigo, na qual Simpson conta histórias da vida de Jobs após o diagnóstico de câncer, é provavelmente a mais emocionante. Leia alguns trechos abaixo.
"E então, Steve ficou doente e nós vimos sua vida se comprimir em um círculo menor. Ele adorava caminhar por Paris. Descobriu uma pequena loja de soba artesanal em Kyoto. Esquiava graciosamente em descida livre. Esquiava desajeitadamente em cross-country. Não mais."
"Eventualmente, mesmo prazeres comuns, como um bom pêssego, não o apeteciam mais."
"No entanto, o que me impressionou, e o que eu aprendi com a sua doença, foi o quanto ainda restava depois de tanto ter sido tirado."
"Lembro-me de meu irmão aprendendo a andar novamente, com uma cadeira. Após seu transplante de fígado, uma vez por dia ele se levantava com pernas que pareciam muito finas para suportá-lo e braços apoiados na cadeira atrás. Ele empurrava a cadeira no corredor do hospital de Memphis até o posto de enfermagem, sentava-se nela, descansava, virava-se e novamente andava de volta. Ele contava seus passos e, a cada dia, tentava um pouco mais."
"Laurene ficava de joelhos e olhava em seus olhos."
"'Você pode fazer isso, Steve', dizia ela. Os olhos dele se arregalavam. Seus lábios ficavam pressionados um contra o outro."
"Ele tentava. Ele sempre, sempre tentava, e sempre com amor no centro desse esforço. Ele era um homem intensamente emocional."
"Percebi durante esse período terrível que Steve não estava suportando sua dor. Ele estabeleceu rumos: a formatura do colegial de seu filho Reed, a viagem de sua filha Erin a Kyoto, o lançamento de um barco que estava construindo, no qual planejava levar sua família ao redor do mundo e onde esperava que ele e Laurene iriam um dia se aposentar."
"Mesmo doente, seu gosto, seu discernimento e seu julgamento se mantinham. Ele passou por 67 enfermeiros antes de achar pessoas que pensavam como ele. Então, confiou completamente nos três que ficaram com ele até o fim. Tracy. Arturo. Elham."
"Todos nós --no final-morremos em media res. No meio de uma história. De muitas histórias."
"O que aprendi com a morte do meu irmão é que o caráter é essencial: O que ele era, era como ele morreu."
"Ele começou a sua despedida, e eu o interrompi. Eu disse: 'Espere. Estou indo. Estou em um táxi para o aeroporto. Estarei aí'."
"'Estou lhe contando agora porque tenho medo de que você não chegue a tempo, querida.'"
"Quando cheguei, ele e sua Laurene estavam brincando juntos, como parceiros que tinham vivido e trabalhado juntos todos os dias de suas vidas. Ele olhou nos olhos de seus filhos como se não conseguisse destravar o olhar."
"Até cerca de duas da tarde, sua mulher podia despertá-lo para falar com seus amigos da Apple."
"Então, depois de um tempo, estava claro que ele não iria mais acordar para nós."
"Sua respiração mudou. Tornou-se grave, deliberada, proposital. Eu podia senti-lo contando seus passos de novo, tentando mais do que antes."
"As palavras finais de Steve, horas antes [da morte], foram monossílabas, repetidas três vezes."
"Antes de embarcar, ele olhou para sua irmã Patty; depois, por um bom tempo, para seus filhos; depois, para a sua parceira de vida, Laurene; então, sobre os ombros deles."
"As palavras finais de Steve foram:"
"OH WOW. OH WOW. OH WOW."
